“Quando recebo e-mails de leitores dos mais longínquos rincões do país, como Carolina, no Maranhão, ou Gravataí, no Rio Grande do Sul, sempre me lembro de que meu umbigo foi enterrado no curral de uma fazenda, na zona rural de Paraíba do Sul”. Esta frase é do escritor sulparaibano Helder Caldeira. Sua maior obra foi o livro “A Primeira Presidenta”, quando faz uma análise política da trajetória pública de Dilma Rousseff.
Imaginem uma cidade que abriga um autor de livros, que este seja conhecido nacionalmente. Seria ótimo, pois o nome da cidade estaria sempre agregado ao escritor. Rainha das águas, Paraíba do Sul é a cidade natal de Helder Caldeira, 32, colunista político e escritor. Autor de três livros, comemora o sucesso do terceiro lançado no Brasil.
Helder nasceu em Paraíba do Sul e foi nesta cidade que ele se apaixonou pela leitura, influenciada pelos pais e avós. Caldeira conta que quando tinha 4 anos de idade, ainda não sabia ler, mas todas as noites pegava um livro e se dirigia ao quarto da avó materna, que morava com ele. Lá, buscava as ilustrações da obra e solicitava que ela [avó] fizesse a leitura em voz alta das resenhas das fotografias e contasse um pouco da história do cidadão retratado. “Foi assim que aprendi a ler e que conheci as biografias de John Kennedy, Charles de Gaulle, Franklin Roosevelt, Winston Churchill, Mao Tsé Tung, Adolf Hitler, Lenin, Josef Stalin, Leon Trotsky e do brasileiro Getúlio Vargas. Assim, me apaixonei irreversivelmente pela política”, revela.
Engano imaginar que Caldeira pensava em transformar essa habilidade com as palavras em profissão. “Eu não tinha na minha cabeça que ser escritor era uma profissão. Eu fazia. Eu escrevia meus jornais. Sempre escrevi muito, mas não pensava assim. Eu queria ser diplomata ou advogado. Era meu sonho de criança”, conta ele que se formou em direito pela Universidade Católica de Petrópolis depois de terminar Arte Dramática e Cinema na UniverCidade, no Rio de Janeiro.
Apesar de morar na capital fluminense atualmente, Helder ainda tem raízes em Paraíba do Sul. A família materna ainda vive na cidade. “Tive uma criação rural, morei em fazenda, vim do mato [risos]”. A rotina acelerada o impede de estar presente com mais frequência na cidade natal, no entanto, quando sobra tempo, prefere a roça à cidade. “Fico mais na fazenda. Eu tive um processo de recessão muito grande, por coisas perdidas”, descreve decepcionado ao lembrar o trabalho na fundação cultural de sua cidade natal. “A relação é de amor e ódio. Eu era presidente da fundação cultural”, recorda o ex-subsecretário de Desenvolvimento Turístico Econômico e Rural do município.
Na trajetória que o levou ao status atual, ao sair de Paraíba do Sul, o escritor foi professor no interior de Minas Gerais até ser convidado pelo então governador do Rio, Sérgio Cabral, para trabalhar no governo.
Helder começou a escrever artigos em 2006. O aumento na demanda de textos, palestras e a dedicação aos livros o afastaram do cerne do governo. Hoje faz análises de situações comportamentais que envolvem a política. São 42 jornais que recebem e midiatizam as palavras e opiniões do escritor sulparaibano. Para dar conta do serviço, o dia do escritor começa às 5h. “Em geral, durmo muito cedo, às 22h. Teve uma época que eu comecei escrever à noite, por ser um período mais silencioso, mas não funcionou porque o corpo não adaptou. Acordo e começo a ler os jornais nacionais e internacionais. Assisto aos jornais da manhã, pois gosto de ver as diversas análises sobre o mesmo assunto”, explicou.
Para escrever os artigos, são pelo menos seis horas diárias de trabalho. A única vantagem, segundo ele, é a replicação dos textos. “Não é tão difícil escrever para 42 jornais. Produzo, em média, três artigos. Alguns veículos têm texto exclusivo”, esclareceu. Com tanto trabalho é provável a dedução de um retorno financeiro imensurável, mas não é bem assim, pelo menos é o que diz Caldeira. Segundo ele, a ideia dos livros era uma atividade mais prazerosa do que financeira, mas “hoje os livros deram um retorno muito bom. Os artigos são mais por prazer e dão publicidade para fazer palestras”, completa o também expositor, que viaja todo o país disseminando suas crenças.
Os livros
Hoje, Caldeira tem três livros publicados: Bravatas, Gravatas e Mamatas (Editora AlphaGrafics, 257 páginas, 2010); Pareidolia Política (Editora AlphaGrafics, 315 páginas, 2011) e A Primeira Presidenta (Editora AlphaGrafics, 207 páginas, 2011). Atualmente está escrevendo uma ficção. Dentre as obras, a que mais se destaca é a terceira, escrita em seis dias, com uma dedicação de 20 horas diárias. “Ao concluir o trabalho, fiquei mais de uma semana sem conseguir chegar perto do computador e estava com as mãos e os olhos inchados.”, revelou Helder.
O livro, lançado em janeiro deste ano, vendeu mais de 50 mil exemplares e será publicado em segunda edição por outra editora, ainda não revelada. A ideia surgiu logo após sua posse, quando Helder escreveu o artigo “A Presidenta e a Comandante-em-Chefe” e recebeu milhares de e-mails e mensagens de leitores de toda América Latina. “Como os leitores mostraram-se com compreensões absolutamente diferentes sobre Dilma Rousseff e com tão poucas informações sobre ela disponíveis, senti que era o momento de criar uma obra que reunisse sua trajetória pública. Ao mesmo tempo, a imprensa internacional começava a tentar explorar informações sobre Dilma, então eleita 16ª pessoa mais poderosa do mundo.”, completa.
O produto também despertou atenção das editoras internacionais e até o início do segundo semestre de 2011 já estará traduzido e publicado em Portugal, Espanha, Dinamarca e na Bulgária. “Estamos fechando os trâmites burocráticos para tradução e publicação nos Estados Unidos e na Inglaterra”, afirma. Agora, Helder se dedica à finalização do seu primeiro romance, uma ficção. O plano de fundo da história será uma monarquia europeia.
Segundo o autor, o resultado do terceiro livro “foi muito além do esperado”. A repercussão ecoou em Brasília e chegou até a presidente. “A assessoria presidencial confirmou a aprovação pessoal dela. No entanto, como é sempre importante dizer, meu livro não é uma biografia. Trata-se de uma análise política da trajetória pública de Dilma e, portanto, sua produção não carecia de qualquer prévia aprovação dela ou de qualquer instituição”, disse.
Os números mostraram o resultado do trabalho e o talento com as palavras, mas, ainda assim, o escritor do interior não acredita na dimensão do seu produto. Apesar da proporção de suas escritas e análises conjunturais dos personagens mais importantes do alto calão do governo federal, Helder sempre vai se lembrar da pequena Paraíba do Sul. “Tenho grande orgulho de ter nascido e crescido em Paraíba do Sul, com uma enorme qualidade de vida e de onde brotaram grandes experiências e personagens que hoje ilustram meus livros e textos. Certamente eu não poderia ter melhor raiz, mesmo que minhas palavras estejam hoje chegando à Dinamarca ou aos Estados Unidos”, finaliza.
Por Rafael Moraes
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