domingo, 17 de outubro de 2010

As lições da mina

Por Douglas Ribeiro

O mundo acompanhou, entre a apreensão e o alívio, a exitosa operação de resgate dos 33 trabalhadores que ficaram confinados por mais de dois meses em uma mina no deserto do Atacama.

            O presidente dos EUA, Barack Obama, resumiu o clima de congraçamento mundial em torno do final feliz do que esteve perto de ser uma tragédia. "Esse resgate é um tributo não apenas aos trabalhadores da equipe de socorro e do governo, mas também à união do povo que inspira o mundo", disse.

A compreensível atmosfera festiva que se sucede a um desfecho como esse não deve, porém, deixar em segundo plano a situação de risco diário enfrentada pelos trabalhadores nessas e em outras minas do Chile -e do mundo.

O segundo homem a ser resgatado, Mario Sepúlveda, destoou dos demais ao criticar a segurança no setor minerador. "Este era o momento de fazer mudanças. Este país tem de entender que é preciso fazer mudanças", afirmou.

O cobre, do qual o Chile é o principal produtor mundial, impulsiona a economia do país e ajuda a fazer dele o mais avançado da América do Sul, o único do subcontinente a integrar a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), sigla que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo.

Os 5,4 milhões de toneladas do mineral produzidos anualmente pelo Chile abastecem 37% da demanda mundial. Os setores de energia, infraestrutura e mineração respondem por mais de dois terços dos 709 planos de investimento, no valor total de US$ 133 bilhões, ora em andamento no país. Além do cobre, a extração de carvão também se destaca -é a quinta maior no mundo.

Por trás desses números, há milhares de mineiros trabalhando em condições perigosas e insalubres. Só neste ano, 31 deles não tiveram a mesma sorte dos colegas da mina de San José e sucumbiram a acidentes. Ainda assim, o Chile é considerado um dos mais seguros no setor. Na China, por exemplo, onde acidentes fatais em minas são mais frequentes, a cobertura do resgate foi censurada na imprensa estatal.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, soube ganhar dividendos políticos com o episódio. Sob holofotes, diante das câmeras de TV, recebeu na saída da mina cada um dos 33 trabalhadores. Numa frase feita, disse que a maior riqueza do Chile não é o cobre, mas sim os mineiros e prometeu promover mudanças como as exigidas por Sepúlveda.

"Não podemos garantir que não haverá mais acidentes. Mas podemos garantir que nunca mais se trabalhará em condições tão desumanas", anunciou o presidente, que tomou posse em março.

O resgate consumiu US$ 22 milhões e foi mais rápido do que o previsto -falava-se que os mineiros poderiam permanecer soterrados até o Natal. O êxito da empreitada dá ao presidente chileno plenas condições políticas para endurecer a legislação e ampliar a fiscalização sobre as mineradoras. Caso isso ocorra, o sofrimento dos 33 trabalhadores e de suas famílias não terá sido em vão.

Douglas Santos Ribeiro, 22 anos, Moro na Cidade de São Paulo, Colunista do Blog da Juventude Ativa
Este artigo foi publicado com base de informações extraídas do Jornal Folha de S.Paulo

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